domingo, março 2

O lado obscuro da metrópole #4

Situação 4: as mães e as mãezinhas
Está uma dia de chuva, vento e frio pela cidade do Porto. Nestes dias cinzentos fico com pouca vontade de me dedicar à culinária e, assim sendo, apanhei o 504 via Norteshopping para almoçar. Nisto, sucede-se uma daquelas situações insólitas às quais eu penso que só se assiste uma vez na vida.
Estavam sentadas 3 mulheres (provavelmente de um bairro social) que eu presumi que pertenceriam à mesma família (avó, mãe e filha, respetivamente). A mais nova (atente-se que devia ter por volta dos 5 anos) insiste em não apertar o fecho do casaco. A mãe, já furiosa, grita fazendo-se soar por todo o autocarro : 
-"Aperta-me já o casacu faxaborê, ou lebas dois extoiros no focinho". A pequena resiste, ainda que a medo. Posto isto, a mãe grita novamente: 
-"Mas o quê que tu querex para me obedeceres, hein? Dinheiru? Olha, toma lá!!!" (E faz o GESTO, amigos. O gesto que consiste em cerrar o punho deixando apenas um e um só dedo esticado. Usualmente apelidado de PIRETE). Há mães e mãezinhas. É evidente que com este tipo de educação não se podem esperar por futuras gerações muito civilizadas. A minha expressão facial refletia o choque que eu senti naquele momento, e houve uma vontade intrínseca de pegar na criança e lhe dizer que neste mundo haveriam pais melhores para ela. Pais pouco semelhantes àquela mãe moribunda, àquela pessoa idiota. Mas fiquei quieta, sem forças para soletrar fosse o que fosse. Agora não deixo de pensar na pequena, sobretudo porque duvido que com aqueles exemplos no seio familiar venha algum dia a ter um futuro brilhante. E uma vida sem a esperança de um bom futuro... é um pouco triste.